Olá, tudo bem?
Essa semana, eu encerro a leitura coletiva de Um teto todo seu, de Virginia Woolf, texto sugerido por uma apoiadora do meu Clube do Livro e que acabou desencadeando algumas grandes mudanças nele (vocês saberão mais em breve).
Já indiquei o livro da autora, em outra seção da news, mas, conforme algumas ideias amadurecem, achei por bem compartilhar algumas reflexões com vocês.
Mulheres na ficção e na filosofia
Um teto todo seu parte de uma narrativa ficcional, mas nem tanto, para tratar sobre o tema das mulheres na literatura. Como personagens, encontramos mulheres aos montes, desde a literatura clássica até os textos da época de Virginia Woolf, no início do século XX.
Se pensarmos só na Antiguidade Clássica, minha área de especialidade, é difícil não lembrarmos de Helena, raptada por Páris na Ilíada; Atena, a deusa da sabedoria e da estratégia militar; Penélope, a astuta esposa de Odisseu… E, se sairmos do mundo mítico grego, ainda encontramos Cleópatra, no Egito; Fânia e Gratilla, que fizeram parte de uma oposição política ao Império Romano.
A literatura e a história estão cheias de mulheres exemplares. No entanto, como bem aponta Woolf, essas mulheres - reais ou não - foram imortalizadas pelos relatos de homens. Os homens escreviam sobre mulheres; mas as mulheres não podiam fazer o mesmo.
E Woolf encontra em dois motivos a ausência das mulheres no papel de autoras: a falta de um teto só seu e de uma renda que lhes permita dedicarem-se à sua obra. Condições bastante objetivas e materiais, sustentadas por preconceitos e pressuposições, ao longo da história, nos privaram de uma literatura (e um mundo) muito mais rico e diverso.
E hoje?
Quando eu olho para a minha área, meu cenário na Filosofia, a situação não é muito diferente daquela que Woolf encontrou no início do século XX. Segundo estatísticas do Projeto Quantas Filósofas?, do total de doutorandos em Filosofia no Brasil, apenas 12% são mulheres. Nas universidades, há departamentos com total de 2% de mulheres professoras e até há os que não contam com nenhuma mulher em seu quadro de docentes.
Se eu te pedisse para pensar em 3 nomes da Filosofia atual, é bem difícil que os primeiros nomes que te vieram à mente incluam uma ou mais mulheres.
Em outras áreas, não é muito diferente. Evoluímos muito, mas não o bastante. Pensar nisso, me desperta sentimentos muito díspares, mas também algumas certezas. A principal delas é a de que ainda precisamos todos, homens e mulheres, trabalharmos juntos para que esse cenário mude. E isso depende tanto de políticas de incentivo e apoio às mulheres quanto de ações individuais.
Nesse trabalho online que venho desempenhando, um fenômeno ocorre com frequência: até hoje, só tive haters homens. Eles também são os que menos apoiam o meu trabalho tanto no engajamento nas redes sociais quanto financeiramente (a desproporção entre alunas e alunos é impressionante!). Tenho certeza de que isso não acontece só comigo.
Então, caro leitor, cara leitora, quero te convidar a pensar de modo bastante prático no assunto:
Quantos livros escritos por mulheres você tem na sua biblioteca?
Quantas mulheres, especialistas em temas do seu interesse, você acompanha nas redes sociais?
De quantas mulheres você compra (produtos e serviços)?
Minhas perguntas não são para que você pare de comprar ou apoiar homens. Mas para te provocar a reflexão sobre o quanto você e eu conseguimos transformar o discurso inflamado das redes sociais em realidade prática e objetiva no nosso dia a dia.
📚 Li e recomendo
Orgulho e preconceito, de Jane Austen - sempre gostei de Orgulho e Preconceito por sua heroína que desafiava o status quo, mas ler o livro da Virginia Woolf me deu uma outra dimensão sobre o texto de Austen. Se você ainda não leu, recomendo. Mais do que romance, você vai encontrar uma jornada de autodescobrimento ali.
👀 Você viu?
A Rede Brasileira de Filósofas promove o projeto Quantas Filósofas?, levantando dados estatísticos sobre a participação das mulheres na Filosofia no Brasil, além de promover o trabalho das filósofas.
Projeto Fritações - neste sábado, às 16h30, eu promovo o debate da leitura coletiva de Um teto todo seu. Se você já leu o livro e quiser participar, basta entrar no grupo do Telegram para receber o link da sala e as orientações sobre o debate. A próxima leitura, a partir de julho, será a Ilíada.
Como sempre, eu estou a uma resposta de distância. Se quiser continuar essa conversa, basta responder este e-mail.
Bom domingo e ótima semana!
Até a próxima!